15 de maio de 2007

Nós, os crescidos

Diz-se por aqui que está eminente o divórcio de um simpático e conhecido casalinho com quem mantenho excelente relação de amizade.

Como se calcula, o caso é notícia de primeira página - até a minha mãe, que passa das oitenta primaveras, veio, pedindo segredo, dizer-me para não comentar, mas fala-se, se eu sabia de alguma coisa; que não, respondi – e a conversa morreu assim mesmo.

Na verdade, a resposta foi uma mentirinha sem maldade.

Conheço a situação com algum pormenor, e lamento que pouco ou nada possa ser feito, na opinião de um dos intervenientes na futura contenda jurídica, para “salvar” uma relação de anos, “abençoada” com a existência de uma criança – é ela que me traz a terreiro na vontade de tecer meia dúzia de considerações muito minhas, mas sem direitos de autor, de tão comezinhas que são, ao alcance da lógica comum.

Quando o casamento começa a ficar preso por arames, a separação é, na maior parte das vezes, uma boa solução, se for equilibrada, respeitosa e civilizada. Na falta do amor, que fique amizade, respeito (sempre!), compreensão e o indispensável diálogo. Existem, como se sabe, situações onde nem sempre é possível levar o barco a bom porto, com consequências dramáticas

Cada caso é um caso, com leitura específica, e como não tenho formação científica que me permita argumentar com explicações filosóficas ou outras, falo do que sei, das minhas experiências …

O casamento talvez seja um jogo de “fortuna e azar”.Por mim, sou capaz de encarar o contrato matrimonial como o preâmbulo de uma peça de teatro em vários actos: nuns, a comédia toma conta do cenário; noutros, o drama desvirtua o texto original e fica sem actores à altura do enredo

Da plateia, vejo o casalinho à boca do proscénio; os dois vão sair de cena sem honra nem glória, depois do desempenho dos personagens ter merecido aplausos até ao segundo acto.

O estilo da peça talvez se transforme numa tragicomédia: a família assiste, impotente, e a criança, filha do casalinho desavindo, fica sem espaço para desempenhar o papel que lhe cabia por direito.

Na verdade, nós, os crescidos, pouco nos importamos com os efeitos devastadores de um divórcio antecedido de mentiras e enganos, com ou sem violência física, mas certamente com alguma tirania verbal - é da praxe que assim seja(?), na maioria das vezes. A gravidade é maior quando os filhos assistem aos mimos com que os pais se digladiam, mas esse pormenor parece não justificar moderação nas palavras e nos actos.

Mais tarde, as críticas da comunidade, a propósito do comportamento cívico de determinado jovem, podem ser injustas, se as culpas lhe são assacadas por inteiro. Nós, os crescidos, com facilidade sacudimos a “água do capote”, mas continuamos críticos, perversos e parciais na justeza das opiniões

O tema a que me propus tem girado à volta da ausência do amor no casamento e, por essa razão, sem os valores morais com que se construiu um mundo de sonhos.

Por outro lado, embora existindo amor, que dizer dos descasamentos sugestionados por bruxos e adivinhos?

Nem tudo se sabe a este respeito, mas aqueles (as) que não acreditam nos especialistas, sempre vão dizendo… que os há – na dúvida (?), deixam uma porta meio aberta; nunca se sabe… há atribulações que justificam todos os “meios” para descortinar o futuro!

Sempre existiram pessoas com determinadas faculdades para as quais não encontramos explicação, e a comunidade científica não tem respostas absolutas para o transcendental; mesmo assim, terminar uma relação amorosa, porque as cartas, os búzios, a bola de cristal ou outro tipo de suporte “espiritual” o determina, não lembra ao “diabo”!

Em tempos não muito recuados, uma decisão do estilo foi demasiado dolorosa para quem seguiu o conselho do (a) “vidente”.O matrimónio, na verdade, atravessara tempos difíceis, mas nem de boatos se alimentou a opinião pública; o casal dialogou e tudo parecia ter voltado à normalidade; o amor entre os dois e os filhos mereciam nova oportunidade.

Um dia, a senhora, que sempre fora mãe exemplar e esposa dedicada, tomou a drástica deliberação de abandonar a casa da família, marido e filhos, sem razões aparentes que o justificassem!

…Soube-se, mais tarde, quando uma depressão lhe minava o corpo e a alma, que os “astros”, pela voz de certo charlatão, tinham deixado aviso solene: o marido seria acometido de doença fatal e ela iria passar tempos difíceis, cuidando dele. Então, contou, faltou-lhe coragem para enfrentar a “enfermidade do companheiro”, e numa atitude de total cobardia, saiu de cena!

A consciência, primeiro num sussurro, depois aos “berros”, chamou-lhe nomes feios – tão feios que, diz, fizeram dela a imagem da vergonha!

Se o arrependimento tivesse asas, teria voltado ao aconchego do ninho no beiral, como as andorinhas na Primavera, mas era tarde de mais!

O ex-marido está de boa saúde e recomenda-se.

7 comentários:

  1. Ele há cada história!!!!!!
    Não estás a brincar?
    Se calhar não...

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  2. Venha ouvir o Encontro da Terra Brasilis.

    beijos

    fuser

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  3. texto muito interessante

    beijos

    della

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  4. Infelizmente é a realdade em que vivemos...

    ás vezes penso se não será melhor apenas juntar os trapinhos, mas depois lá aparece a "moral" e os "bons costumes" e esta minha ideia desvanece...

    Pode ser que ainda se faça luz nalgumas cabeçinhas...

    Um beijo grande da sobrinha!

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  5. E juntar os trapinhos em vez de casar faz cada um livrar-se das suas responsabilidades enquanto membro do casal, pai/mãe da criança e membro da sociedade?????

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  6. "..........Na saúde e na doença..."
    Pois,acho que foi uma partida do Divino o sr., "recomendar-se" por mais uns aninhos bons e - de saúde!

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  7. Este texto será sempre atual. Um retrato da vida. Somos seres humanos e cada um está aqui com seus desconhecimentos e medos. Uns mais outros menos seguros de suas atitudes e valores. Claudia

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