31 de dezembro de 2005

"Balancê"



A tarde deste último dia de 2005 foi passada em viagem. Pouco trânsito, o sol brilhava meio envergonhado, e eu, de bem comigo e com o mundo, conduzi devagar.
Tinha o rádio ligado e ouvia a "Antena 1". À hora certa, começou um programa "ao vivo" com a Sara Tavares.
Sei de quem se trata; apareceu no meu mundo ainda catraia, segui o seu percurso como autora e intérprete, mas o modo como desenhava o espírito, fascinava-me.
Conhecia as suas raizes religiosas, imaginava que o sucesso fosse o bastante para alterar o seu percurso de "louvores", crenças e mensagens.
- Não alter
ou! O sucesso foi uma benção e a Sara continua a dizer (e a cantar) "direito por linhas tortas" que pode "...fazer tudo, mas nem tudo lhe convêm.."!
... Neste "Balancê" ela voa para longe, para muito longe...
O CD, editado na Holanda, será um êxito, mas a Sara continua a somar garantias de menina equilibrada: segura de si e dos valores que defende, eloquente, calma, terna, deixou respostas que definem as (os) predestinadas (os) .
Para mim, foi um excelente fim de tarde.

28 de dezembro de 2005

"As Minhas Asas"

Foto: Nuno Botelho

A estória conta-se em poucas palavras: ninguém (?) tem dinheiro para manter esta casa como memória de um passado rico de cambiantes sociais. Nem o Estado - dizem!
Um óptimo tema para discussão.

Um dia destes a casa vem abaixo.Nela viveu e morreu o autor deste belíssimo poema. Quem foi?

As Minhas Asas

Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
— Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
— Veio a ambição, co'as grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
— Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essas luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
— Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.


João Batista Leitão de ...

23 de dezembro de 2005

Bom Natal!



...Aos lugares comuns acrescento mais uns "trocados": saúde, trabalho, amor (com ternura, carinho e entendimento...), paz, e só coisas muito boas em 2006 - é o meu desejo para todos.

22 de dezembro de 2005

Leiam!

Por favor, corram para este blog. Depois digam que não sou vosso amigo...
tp://www.causa-nossa.blogspot.com/

Não gostei...


... Não gostei das insinuações do dr. Soares durante o debate com o dr.Cavaco; apesar das diferanças, o segundo tem direito ao respeito cívico - não pode valer tudo em política! Chamem "animal político" ao dr. Mário, mas acrescente-se mais qualquer coisa, talvez... racional!

20 de dezembro de 2005

Memórias

O peso dos anos tem a importância e o valor do trajecto que percorremos.
O carrego pode ser pesado se a vida foi madrasta, ou leve se a fortuna teve sorrisos de boa vizinhança.Em qualquer dos casos, a memória funciona como arquivo de todas as coisas, boas e más; por vezes, de forma voluntária, recordamos outros tempos, perto ou longe do momento presente, outras é o acaso que nos faz lembrar o passado.
Casualmente, hoje, encontrei na mesa de um bar um jornalinho que, confesso, já não desfolhava desde os tempos em que ia à Missa, aos domingos. Chama-se O AMIGO DO POVO, é editado pela Diocese de Coimbra, e tem de vida noventa anos!


São duas folhas "A4", de conteúdo evangelizador, naturalmente, e é informativo quanto baste.
Tinha (e tem!) uma secção que lia com enlevo : "Ao calor da fogueira" - diálogos simples e moralistas, como o da edição 4280, do dia 11 deste mês de Natal.
De tanto querer saber ( e nada sei!...) tornei-me agnóstico, mas este jornalinho transportou-me à infância na minha aldeia, ao padre Januário, às brincadeiras do pião e aos futebois no largo da escola, às reguadas da professora Georgina e aos seus preciosos ensinamentos, à primeira namoradinha, ao Peixoto (a quem sovei de raiva, certa tarde, por causa da Teresa que era miúda de alguma beleza e sorriso brejeiro), aos passarinhos presos nas armadilhas, aos mergulhos no rio, ao Américo Cigarrada ( ... os peixes que agarrava à mão, só para me satisfazer os desejos!...), à avó Virgínia, à mãe Natália...
E O AMIGO DO POVO era o meu jornal de domingo.

16 de dezembro de 2005

ÍNDICO

* Baía do Espírito Santo *




Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
___________

(...) Mário de Sá Carneiro
Excerto do poema"Quase"

15 de dezembro de 2005

Prenda (s) de Natal!

O país - o nosso país! - afinal não está de tanga nem anda de calças na mão, à míngua de euros!
Vejamos:
- um novo aeroporto
- comboios de alta velocidade
- três novos hospitais em Lisboa.
Isto para "falar" apenas das (grandes) obras onde o Estado irá ter intervenção directa; mas há ainda uma nova refinaria em Sines, graças a investidores estrangeiros. Aqui, o Estado só tem de emitir as respectivas autorizações e a Câmara de Sines as licenças necessárias.
O Primeiro Ministro descobriu, possivelmente, uma mina de ouro, e vai daí ordena aos seus rapazes:
- Mãos à obra! Quero ficar na História de Portugal com letras garrafais e estátua na rotunda, como o Marquês!
Quanto às letras, também o Marquês (de Pombal) deve ter assinado algumas, e foi (também) assim que reformulou Lisboa; estátua é fácil - difícil é escolher a rotunda!...
Mas isso é coisa de somenos importância, derivado do facto (como diz o meu presidente de Junta) de só erguerem estátuas a figuras públicas após a (sua) morte.
Entretanto, sempre irão nascendo mais rotundas e não consta que o nosso primeiro tenha maleita de qualquer espécie, capaz de o levar à tumba nos tempos mais próximos.

12 de dezembro de 2005

... E o telefone mesmo à mão!


Volto à nostalgia para situar um ponto no Índico: Moçambique!
Foi naquele país encantado por deuses de múliplas facetas estéticas que me descobri como homem; cresci e quase completava determinado cíclo da minha existência quando valores mais altos se levantaram e retornei, em boa companhia (fomos milhares!), à casa onde nasci neste ponto da Europa, longe do Atlântico que levaria saudades à Baía do Espírito Santo em barquinhos de papel - fosse eu Pedro na lenda da Quinta das Lágrimas e teria chamado à minha cidade, Inês! Mesmo assim, continua rainha dos meus sentimentos, sonhos e ideais...
Na falta de ondas e marés, sem correntes de feição, recorro à ciência deste tempo para estar mais perto da minha gente, e ouço os sons que chegam do outro lado do mundo, aqui mesmo: basta um "click" e chego a casa!
No serão da última noite, tive companhia de elevado grau e qualidade - do locutor de serviço ao homem da técnica, de Villaret a Manuel Alegre, de Pedro Abrunhosa à "ELisa Gomara Saia", interpretado por voz genuína, sem trejeitos.
...E o telefone mesmo aqui à mão!
Num impulso, marco um número.Espero dois, três segundos:
- Bom dia, fala da Rádio Moçambique.
.............................
Eram quatro da madrugada na "minha terra"...

9 de dezembro de 2005

O sonho (sorridente) da fantasia!

Há "novidades" no futuro do nosso país, se forem credíveis as sondagens da noite passada à saída dos portões do Estádio da Luz.
Por larga maioria, deseja-se Filipe Vieira como primeiro ministro de Portugal!
É simples e lógico o raciocínio dos inquiridos (cerca de sessenta mil!!!), vejamos:
1- Cavaco Silva ganha a presidência da República e, como deseja vingar-se da má acção praticada junto do PSD/Santana Lopes por Jorge Sampaio/PS, dissolve o Parlamento e convoca eleições.O Luís Filipe Vieira, qual Berlusconni à portuguesa, candidata-se com o apoio do grandioso SLB e tem a vitória mais do que garantida!!!
2 - Nas sondagens também ficou dito que o ministro dos negócios estrangeiros deveria ser o Veiga, para as finanças iria o Simão, economia o Nuno Gomes, o Petit ficaria com a pasta do trabalho, para o Mantorras o ideal seria o ministério da sáude, Luisão administração interna, etc, etc. (Gente capaz e com provas dadas em todos os sectores tem o glorioso com fartura - veja-se a jogatina da noite passada...)!
3 - Se o p.f. primeiro ministro LFV coneguiu erguer um estádio novo e ser campeão com os cofres do partido , aliás, clube, vazios e a cheirar a mofo, também teria competência para fazer do País obra grandiosa (ele e os seus rapazes). A situação económica é semelhante, segundo as crónicas dos entendidos na matéria.
4 - O grandioso quer atingir a "módica" quantia de trezentos mil sócios; com a subida do LFV ao poder seria fácil, se o cartão de sócio do Benfica for adoptado como bilhete de identidade de todos os portugueses. Seriamos milhões, e não o número pequenote que
agora se deseja alcançar...
Não ficou esclarecido como seria possível a todos os associados assitirem aos jogos do glorioso,
mas a senhora que vendia castanhas,
no final do jogo, disse à TV: "...que se lixe a mercadoria, o Benfica ganhou e prontussss..." !

4 de dezembro de 2005

Eu,"pessoa"


Hoje é dia de domingo frio e chove devagar;
eu, sem ocupação suficiente durante a tarde, fiquei preso ao computador
e viajei por mundos desconhecidos ;
como sempre acontece nestes dias friorentos e chuvosos, fico indeciso entre a nostalgia e a saudade;
todos os sentidos saem de mim e fixam-se num ponto do Índico, num outro tempo, numa outra vida, onde eu existia em função da esperança e da expectativa daquilo que não sou agora. Quando regresso, sinto-me perdido,
demoro a reencontrar-me
- mas basta um sinal (domingos frios e chuvosos... ) e volto a ser homem de outro Oceano, mais perto da serra onde me revejo. Por aqui andou Torga, há memórias.
Lembrei-me de Pessoa, que era Fernando,
do que sou, enquanto "pessoa";
e da Ofélia, que sonhei apaixonada!
Volto à biblioteca do disco rígido e descubro Villaret
entre tangos, valsas, sambas, "reggae", rock...
Regressaram os sentidos!
Fernando Pessoa.... João Villaret...
deleito-me com a " Tabacaria" durante dez minutos
e voo cinquenta e sete segundos nas asas da "Liberdade"!
Ainda é domingo.
Talvez ouça de seguida marimbeiros de Zavala num outro som, em perfeita harmonia.
Bayeeeeeeeeeeeete!!!

30 de novembro de 2005

Tenho "só" uma dúvida!

Falta assunto!
Hoje estou vazio de ideias, mas quero falar - falar, gritar, berrar a propósito de qualquer coisa, feia ou bonita, grande ou pequena, gorda ou magra! Mas nada é tema importante para honrar tão ilustre página; embora de negro vestida, é uma espécie de óasis neste deserto de ideias - das minhas ideias!
Ela, a página...
As ideias...
Então, quem manda o "sapteiro tocar rabecão" ?
Sem ideias, sem engenho, sem arte, como posso imaginar perspectivas de escriba ao comunicador que não sou?
Fernando Pessoa tem aniversário de morte anunciada; a CIA anda por aí a espiar as "alcovas" dos desordeiros da ordem e prende-os (faz muito bem...)!; Álvaro Cunhal, embora morto, é selo de carta de correio - e também se diz, segundo Pacheco Pereira, que foi culpado de algumas mortes políticamente necessárias.
E foi notícia a entrega (pelo mesmo Cunhal) ao KGB de quilos de informação desviada dos armários da polícia política!!!
Afinal, sempre há assunto/s!
E até eu sou assunto - fui assunto: a Segurança Social anunciou-me em carta timbrada que deverei"... efectuar o pagamento das respectivas contribuições, com base no escalão..." !
Portanto, a partir do próximo mês vou pagar mais!

E é justo que assim seja, derivado do facto, como diz o meu presidente de Junta, de ter sido "aumentado"!
"... com os melhores cumprimentos, P'o DIRECTOR ( assinatura ilegível)..." !
Quanta gentileza...
Tenho só uma dúvida: se sou patrão de mim mesmo, quem me "aumentou"?
Eu não fui!
E a minha conta bancária continua magra como bezerro em tempo de seca no Alentejo!







27 de novembro de 2005

Dr. Fernando Valle - um ano depois


Fernando Valle deixou de estar físicamente perto de nós há um ano. Passou ao Oriente Eterno no dia 26 de Novembro de 2004. Curvo-me perante a sua memória, respeitosamente, e deposito na campa rasa uma folha de acácia.
O Mestre que ensinou a "Arte de Sonhar" continua vivo!

_______


Este tempo de sim
Tempo de cada um por si e para si
Carreira ordem unida orelha murcha
Vida vidinha medo miudinho
tempo de chefe e chefezinho
Este é tempo outra vez de Portugal em inho

Eis senão quando vem Fernando Valle
Com seu cabelo branco e seu sorriso
Traz consigo uma velha trilogia
Liberdade (diz ele) E chegam guerrilheiros
Com suas armas e sua festa
Garret desembarca no Mindelo
Antero fala nas Conferências do Casino
toca sinos
E chegam carbonários
Sonhadores
A Rotunda o Relvas a República
Fraternidade ( diz) E aí estamos nós
De novo de mão na mão
Prontos para o combate
E para o não

Ouviremos o Torga
Seremos contra isto para ser por isto
Resistir é possível
pela esperança lúcida
É possível começar de novo

Porque ainda há Fernando Valle
Algures em Coimbra ou Arganil
Há ainda um velho capitão do povo

Com ele é sempre Portugal
E é sempre Abril
____
Manuel Alegre

26 de novembro de 2005

Ao Presidente da República do futuro

Excelência:
Sei que V.Exª sabe que eu sei alguma coisa de finanças. E de Economia também sei.Se não soubesse, imagine como poderia governar o meu sítio, a minha casa, já que os negócios estão em crise, há sempre coisas para pagar, ennfim, V.Exª. sabe como é.... mas se não sabe, devia saber, porque eu sei quanto custa estar vivo; por vezes falta-me a vontade de sorrir, mas pronto, tento, com a ajuda da rosa que é margarida, ou da "anja" que me visita, lá para o fim da tarde, e da ritocas que é chata que se farta, mas enfim... O dinheiro é pouco, como V.Exª. imagina ( ou sabe...), portanto faço das "tripas coração" e penso, invento, pesquiso - torno-me num verdadeiro e autêntico "Einstein", quiçá merecedor de uma comenda um dia destes, se V.Exª. estiver atento ao meu esforço para continuar... com alguma qualidade de pensamento!
Assim sendo, desejo partilhar ideia luminosa (sem intenção de pressionar V.Exª., é bom de ver; V.Exª não é pressionável...) que, eventualmente, pode resolver as graves questões económicas e financeiras do nosso País.
Como V.Exª. sabe, o meu presidente de Junta diz coisas - está sempre a dizer coisas, aliás - e ele disse que em "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão". E se ele o disse, é porque é verdade, ainda que desconheça se na sua casa (dele) há pão com fartura, ralhos, razão - isso tudo, senhor Presidente. Então, pensei: se tivessemos um novo Sebastião (com ou sem dom, não é importante para a ideia) capaz de comandar as nossas tropas, iamos todos por aí fora, atravessávamos fronteiras, e caíamos em cima dos espanhóis sem eles darem conta, dada a "visita" ser inesperada! A vitória era mais do que certa, creia.Depois, era simples: anexavamos Olivença e o resto, cortavamos o arame farpado da herdade do sr. Zapatero, aquilo ficava só uma nação, V.Exª. passava a presidente de um país um pouco maior ( ou rei, talvez...), e pronto - acabavam-se os nossos problemas!
V.Exª sabe, e eu também sei, que por lá sempre se ganha mais um bocadito, o que significa que há pão; e se há pão, ninguém ralha - todos têm razão! E há touradas com fartura, flamengo, a ETA, que também diz ter razão, etc. etc.
Bem, com aquela gente que anda sempre com bombas que fazem "pummm!" e matam pessoas, era mais complicada a conversa, mas sempre podiamos argumentar com a experiência dos Filipes por cá, durante uma temporada bem larga, agora seria a nossa vez de mandar, etc e tal...
A minha ideia não inclui derramamento de sangue, tiros, nada disso: iamos de diálogo em diálogo até à vitória final.
Há, porém, uma cláusula a ser cumprida por ambas as partes: V.Exª seria o presidente, mas a bela da princesa Letizia seria rainha - é a minha preferida, como V.Exª sabe, e só por ela, agora, não me importava de ser "espanhol"... sempre ia ao "beija mão"!
Mas como me orgulho de ser portuga, a ideia que lhe deixo tem (também) a finalidade de fazer da bela senhora uma cidadã nacional.
Se V.Exª tiver a ousadia e a coragem de D. Sebastião, conte comigo, serei seu fiel escudeiro! Mas cuidado: anda por lá um desconhecido que dá pelo nome de Miguel de Cervantes, conta estórias , e escreveu um livro enorme, que ninguém lê, sobre outro sebastião a quem chamou Dom Quixote - não vá ele querer os meus serviços e fazer de mim o seu Sancha Pança...

25 de novembro de 2005

"O Europa"

Gostei da gentileza do "Europa" http://www.europabar.net. A página merece uma visita- vão gostar!
Fica um abraço e a promessa de um "copo em família".

23 de novembro de 2005

Cartas ao pai Natal

Recebi este "mail", que partilho convosco.
Honra ao autor/a!
...Por favor... sorriam :-)
__________________________________________

De Mário Soares:

Acordei agora da sesta. Tive um sonho original.
Conversei com a Maria
E achamos que não é sonho
Mas uma ideia genial!
Já fui ministro, primeiro-ministro
E duas vezes presidente deste país
Está na hora de mudar de ares
Aceitar novos desafios
Levar mais longe o nome de Portugal
Ou o meu nome... Como sempre quis.
Como tu tenho já uma certa idade
E no ventre a mesma proeminência
Decidi que para o ano quero ser o Pai Natal.
Portanto...
Olha pá faz as malas. Desocupa a Lapónia.
Vou ser eu o Pai Natal.
Tem lá paciência.

Assinado: Mário Soares
(Ex-deputado. Ex-Primeiro Ministro. Ex-Presidente da Republica.
Ex-Deputado europeu. Futuro Pai Natal)
____________________________
De Manuel Alegre :

Pai natal quando voares nos céus da minha Pátria
Quando aterrares as renas nas planícies do meu País
Lembra-te desta carta, pedido singelo
De um homem que só para a Pátria pede
Para si... Nada quis.
Se o nevoeiro que levou D. Sebastião
Te fizer perder o rumo e baralhar o norte
Segue o cheiro a verde pinho
Ouve a minha trova no vento que passa
E chegarás às chaminés do meu país
Pátria desafortunada. Sem euros. Má sorte.
Numa das chaminés de Lisboa
Sentirás o odor e verás o fumo negro da traição
Que o teu trenó sobre ela paire
Que sobre a chaminé de Soares a tua rena páre
E solte bosta. Um imponente cagalhão.


Assinado: Manuel Alegre
__________________
De Francisco Louçã:

Isto não é uma carta!
É um manifesto. Um protesto. Uma petição
Assinada por dezenas de intelectuais
E outras pessoas que jamais
Se reviram numa festa
Bacanal
Orgia de oferendas
Dadas sem qualquer critério
E que perpetuam uma tradição
Caduca. Reaccionária. Clerical.
Que tu representas oh pai do natal.
Com esta petição pretendemos
Que a data seja referendada
Não imposta, decretada
Por um estado economicista e liberal
E que seja celebrada quando um homem quiser
Não à roda da mesa. Consoada.
Mas num portuguesíssimo arraial.

Assina: Francisco Louça
_______________
De Anibal Cavaco Silva:

Excelentíssimo Senhor Doutor Pai Natal
Venho por esta via pedir para a minha Maria
O Kama Sutra, versão condensada
Não sei se a minha Maria teria
Para a versão completa e ilustrada
Suficiente pedalada.
Eu para mim
Por ora nada peço
E de momento nada digo
Não abdico do meu direito de manter o suspense
E de fazer tabu do meu posterior pedido.
Mas.... E só isto adianto
Não preciso de Viagra
Para acompanhar a minha Maria na leitura
Do acima citado livro
Que teso e hirto ando eu sempre
Não precisando por isso de muleta
Ou qualquer outro suplemento
Para manter a rigidez
E o meu porte sobranceiro.
Despeço-me atentamente economizando palavras
Porque como vossa Excelência sabe:
Os tempos são de crise e tempo é dinheiro.

Assina o Professor Doutor:
Cavaco Silva
__________________
De Jerónimo de Sousa:

Camarada
Tu que és explorado pela entidade patronal
Durante a época do Natal
Usado como símbolo do capitalismo
Para fomentar o consumismo
Desenfreado, descontrolado
Que enriquece a burguesia
E empobrece o proletariado
Junta-te a nós no combate
Contra a guerra no Iraque
Oferece Che Guevara's não ofereças Action Man's
Luta pela igualdade feminina
Não dês Barbies mas Matrioshkas
Educa as crianças de hoje
Comunistas amanhã
Substitui o Harry Potter pelo livro "O Capital".
Camarada
Reivindica o teu direito a um transporte decente
Pára o trenó e as renas
Que não é veículo de gente operária e trabalhadora
Como tu oh pai natal!
Unidos venceremos o imperialismo e os reaccionários
Viva o Natal dos oprimidos
Viva o Natal dos operários!

Assinado pelo candidato: Jerónimo de Sousa
(Carta aprovada por unanimidade e braço no ar pelo Comité Central
do PCP)

21 de novembro de 2005

Pode repetir?


"É só mais uma vez" !
(foto "Visão")
_____________________
Por favor, ajudem-me com indicação capaz de resolver os meus problemas auditivos; explicando melhor o meu caso: um candidato às presidenciais disse (?) :
"... prometo que só me candidato mais esta vez, cumprirei apenas um mandato, se for eleito, e depois deixo o caminho livre...", etc e tal, mais coisa menos coisa, foi o que ouvi... digo eu!
Ah, e deu a sua palavra como penhor do que afirmou!...
Ouvi bem? Uns meses atrás este cavalheiro não disse quase a mesma coisa quanto ao seu imediato futuro político? E agora é candidato? Hummm... devo ter ouvido mal.
Tenho de consultar... sei lá....alguém especializado nas questões da coerência e sensatez.
De facto, estou a ficar meio gasto e cansado - nota-se pelo "ouvido"!

18 de novembro de 2005

...sem sentir


...o som dos passos na calçada
os vultos com quem me cruzo,
os cumprimentos que faço,
os sorrisos que distribuo…
.....
Tudo sem sentir!...
..….
Perfeita anestesia!!...
.….
A mecânica do ser?
A obrigação da educação?
A desilusão?
.….
Algures ficou o calor dos afectos,
A luz dos sorrisos,
O som das gargalhadas,
A vontade da emoção…
….
Venha a rotina do dia
Venham as horas de ponta
Venha o café e o cigarro
Venha o trabalho
Venham os rostos indiferentes
Venham as frases sem som
Venha a vida insonsa…

..... assim é mais fácil não sentir nada…

Carla Ramos
08/02/2005

15 de novembro de 2005

Dizia eu...


Termino as citações:

"... Nenhum presidente vem resolver o problema económico do País..." !
As leituras da semana disseram-me que o candidato/poeta é homem vertical, que nunca abandonou uma demanda a meio, que travou batalhas dentro e fora do partido político que escolheu para uma militância efectiva, sempre em sintonia com a sua coerência cívica, sem procurar protagonismos a qualquer preço, remetendo-se por uma vez à tentação da cadeira do poder, mesmo assim em posição suabalterna.De resto, o seu percurso continuou igual - antes e depois de Abril.
Como escreveu Cristóvão de Aguiar na citação anterior, um presidente não se "esgota" nas questões económicas; nem na utopia - mas que ela existe, EXISTE!
Ei-la, prenhe de liberdade no sonho do "Presidente do País Azul" (Cristóvão de Aguiar).

13 de novembro de 2005

Eu, "alegre" me confesso

A semana que agora termina foi diferente de todas as outras no que à leitura diz respeito. Li jornais, uns com nome na praça, outros nem por isso, numa tentativa de saber mais sobre os candidatos à minha cruz em Janeiro.Portanto, o ritual diário de ler "a bola" ( continua a ser um jornal de referência e uma espécie de ponte com os verdes anos) foi alterado, recorri ao Expresso e à Visão, mas o que mais interesse me despertou foi " A Comarca de Arganil", naturalmente por ser um jornal regional; leio-o há décadas, por razões afectivas, e sempre descobri entre notícias de formaturas e aniversários, artigos com verdadeiro interesse; neste caso, o assunto tem como título "O Presidente do País Azul" - assina: Cristóvão de Aguiar.
O autor escreve sobre Manuel Alegre com certo lirismo no estilo e eu, que já tinha opinião formada sobre o poeta-candidato, deixei que o articulista refinasse a minhas ideias; portanto, faço minhas algumas das suas frases, como esta:
"... Manuel Alegre é um poeta no sentido grego da palavra, aquele que faz e se faz fazendo, que vem gritar os seus poemas para o fórum, a Praça Pública, que faz da pena uma arma e desta uma caneta...".
"... Nunca cantou o paraiso parado, mas, sim, o paraiso a conquistar ou sempre por conquistar. A utopia que faz tão bem à saúde espiritual..."!
Por aqui me fico, já é madrugada.Mais logo, volto.

Rosa...


... ou "margarida", que é nome de flor!

3 de novembro de 2005

Uma noite mal dormida

Depois da "cruz no quadrado" recebi recados e encomendas, como se eu fosse figura importante, com influências à esquerda e à direita e capacidades inauditas - tudo porque me assumi como pessoa preocupada e, pelos vistos, nem todos os meus concidadãos se regem pela mesma cartilha; isto é: as gentes do meu país estão-se nas tintas, quem vier que venha por bem, não importa que seja alto, baixo, gordo ou magro, que perceba de economia ou tenha uma "concepção de democracia pouco estruturada", mas pronto, precisamos de um presidente, vamos lá para o arraial, e que venham os zés-pereiras para animar a festa!
Afinal, quem anda com pensamentos obtusos sou eu, porque me preocupo, e isso não vai acrescentar mais valias para a minha reforma (gosto imenso deste termo: mais valias, porque é utilizado vezes sem conta pelo meu presidente de Junta, homem sagaz, com cultura acima da média, enfim.... está sempre a dizer coisas, como a loira das anedotas...), portanto tenho de arrepiar caminho e enfileirar no rebanho, com este ou aquele pastor, tanto faz...
Estava eu com esta retemperada ideia , olhos semi cerrados, três da manhã, cobertor até ao pescoço aconchegado, e... toca o telefone!!! Como tenho nervoso miudinho, fiquei irritado com a desfaçatez da pessoa que não respeita os horários de quem tem madrugadas de segunda a segunda, mas atendi: era o nosso primeiro!
Os cumprimentos habituais, eu ensonado, meio chateado, ele nem por isso.
- Então, a que devo a honra deste incómodo?
- Soube da sua preocupação, e como também me preocupo com as cruzes, quero convidá-lo para integrar a procissão - disse o nosso pimeiro.
- Procissão? Mas que procissão? - perguntei, como se eu fosse o meu presidente de Junta, sempre interessado pelas coisas lá da terra.
- Camarada, então não sabe que hoje é dia de visitar os cemitérios? Ando preocupado, etc e tal...
Pronto, só me faltava mais esta preocupação - pensei eu, calado!
Procissões, cruzes....funerais...
....
Acordei cedo. Não recordo os sonhos de uma noite mal dormida.

1 de novembro de 2005

... da minha varanda...

Foto: Rita Ramos


Omnipresente e omnipotente, o "rei" começa a deitar-se ao fim da tarde;
longe daqui são horas de acordar.
Músicos, poetas e pintores cantam em vários tons a plenitude divina - aqui de oiro; a sul, muito ao sul,
cambiantes de vermelho .
Da minha varanda viajo nos sonhos de menino e repouso o olhar na linha do horizonte entre o mar e o céu da baía do Espírito Santo...
"Tudo isto é obra do Grande Arquitecto do Universo"!...

27 de outubro de 2005

Uma cruz no quadrado

Ando preocupado com o futuro do meu país. A razão ( uma só!) é simples: no começo de 2006 vou ter de escolher o "meu presidente"!
Como se vê, o motivo da minha preocupação resume-se a uma cruz desenhada sem grandes cuidados estéticos no interior de um pequeno quadrado; o que importa é que indique o meu eleito, a minha preferência, o mais capaz, o mais erudito, o mais...o mais tudo! Para mim, claro....
Mas é este "mais tudo" que me dá cabo do miolo...
Vejamos: um é alto, gordo, gasto, usado, mas tem o saber de um velho soba e, se fosse tempo de monarquia instituida, talvez fosse "rei"; outro tem barba a necessitar de estilista barbeiro, é menos usado, menos gasto, e não se lhe adivinham gostos monárquicos - pelo contrário! Dá-se como escritor, mas cá para mim é, simplesmente, o poeta com quem gostaria de me parecer na qualidade e na forma da escrita, e não como pessoa, porque por aí ganho-lhe aos pontos: a minha barba tem cuidados de tesoura bem afiada e não esconde a barbela!
Há ainda outro, de discurso gasto, usado, nada gordo, e também não lhe noto requintes de príncipe, rei ... ou presidente.
O candidato que mais me faz recuar uns anitos nas lembranças é o último da lista: os gestos de "anarquista" são um pouco de mim nos tenros anos; também aprecio a elegância resultante de alguma dieta menos conservadora e não desdenho ouvir os seus recados enérgicos, atentos e venerados por plateia irreverente, sobretudo quando o actor vem à boca do proscénio dizer de si coisas, monólogos, com continuação na "página seguinte".
Perante estes cenários, a minha intrínseca preocupação começa a ser um tabu, que irei desvendar no dia em que desenhar esteticamente a cruz no quadrado das minhas dúvidas....
Hummm... esqueci-me da minha maior preocupação!...
...Dizem que está mais simpático, será?

25 de outubro de 2005

Viagem com regresso marcado


... Ontem as andorinhas do meu bairro voaram baixo, em grupos, chilreios mais audiveis. Olhei-as do sexto andar e, por breves segundos, segui a evolução do voo: iam e vinham num corrupio alucinante sobre os beirados...
... Afinal, as andorinhas do meu bairro estavam a "despedir-se" dos seus lares... A viagem que encetavam tem regresso marcado. Talvez em março próximo.
Virão todas?
Voltarei a vê-las da minha varanda?

24 de outubro de 2005

Em cantos...

Em cantos canto a tristeza que sobre mim se abate;
em cantos canto a alegria que recordo com saudade...
em cantos vivo o dia a dia pensando,
correndo suavemente pelos canteiros do destino.
...
Parto sem saber para onde vou, e volto sem saber por que parti,
sempre na imensidão do silêncio absurdo e acusador que me rodeia e aperta...
...
Em cantos me fecho e tapo, me lamento e debato,
sonhando realidades mais confusas que utopias,
sonhos mais duros que a realidade impossivel que me rodeia.
Em cantos grito a dor que sinto,
grito o silêncio que doi e flameja no meu peito...
Em cantos vivo,
em cantos sofro e escorrego pelo meu próprio pensar.
Denise ("noite de poesias "/ RiTuAL -00/02/11)

SECRETO SEGREDO

Viajei com as minhas mãos pelo oceano de lágrimas do teu rosto
em busca de porto seguro
- miragem de emoções
cativas da memória do olhar que se perdeu
na imensidão do teu sorriso,
que sempre fala, mas pouco diz;
por isso, há uma jura de não te ver
e um desejo para que voltes
todos os dias...
Fico à espera
das palavras que não ouvi, do carinho que não recebi,
do acto que não senti - do gesto de um beijo!
Ah... mas se eu soubesse
que outras mãos percorriam o teu corpo
em busca de sensações adormecidas,
talvez a paixão ganhasse asas
e voasse,
como num sonho,
rumo à solidão a que me proponho!
Este secreto segredo
é muito mais do que estar só!...

23 de outubro de 2005

FERNANDO VALLE -"O Mestre que (me) ensinou a arte de sonhar"

"O que desejo deixar expresso... é o facto de a determinante de toda a minha vida ter sido o lutar pela libertação do homem, no sentido de se conseguir, efectivamente, um regime de direito em que seja possível, de facto, a paz, a liberdade e a justiça social"
Fernando Valle, 1977

21 de outubro de 2005

AMBANINI!


Polémica latente que baila perante o meu olhar, melancólico e ausente,
eclodiu com violência de desesperar.
Polémica visível entre entes como eu, de
olhares frios e vazios,
mas de vontades férreas como a que me prendeu;
por isso, deixei que o tempo corresse - separei o trigo do joio e fiquei quedo e mudo a escutar a voz da adolescência numa linguagem que não entendo:

- Choaneeeeeeeeeeee - entoam as marimbas!
- Buialéne!
Não respondo ao cumprimento nem ao apelo do passado...
Agora, este cajado a que me apoio, pau tortuoso e sem medida,
verga coitado ao peso desta desdita ...
Sem ele,percorri o tempo de lés a lés,
fui autodidacta,"procurei a verdade ",
e deixei que me negassem outros mundos preciosos
- desfez-se o sonho da esperança...
Perante esta polémica que baila em sorrisos hipócritas, horas,dias,semanas,meses e anos a fio,
fiquei
...vazio.

20 de outubro de 2005

...Era uma vez...


AINDA O "MESTRE" ROBY AMORIM, COM SAUDADE!
(no tempo do "telex")

Tempo de guerra

(ilustração: Roby Amorim)
*
Passos... ruído...
e tudo num repente se transforma:
as sombras são homens
e a noite faz-se dia - é o céu que se ilumina
com o ribombar dos clarões;
eles caminham,
correm, caem, vêm aos trambolhões!
Eis que as trevas se desvanecem
e "eles" aparecem!!!
...
Aqui um ruído,
além um grito,
um corpo que cai
sem um gemido
sem um ai!
Vila Cabral/68 -BC 20

Eu,"deus"






Equiparei-me a um deus
desprovido de omnipotência
na ânsia de ser igual a mim mesmo...
____
Ilustração: aguarela de Roby Amorim (77) - redacção do jornal "telex"
(singela homenagem ao "mestre")

Fim de festa

Queria ver-te nua
e da alma despida
na rua,
perdida...
Em gozos celestiais,
êxtases de loucuras
e orgias de entontecer,
banais seriam as tuas graças
- desventuras talvez!
E eu, rosto enxuto,
braços cruzados,
a ver morrer aos poucos,
de vez,
a alma, o corpo
a tua imagem,
sem coragem
de oscular em fim de festa
o pouco que de ti resta....
ca.'.